Camila Cunha: Ver o pódio todo negro me emocionou demais; uma brasileira que veio da favela, mais ainda

Sobre chances, superação, resiliência, democracia real

Por Camila Tenório Cunha*(camilatenoriocunha), em perfil de rede social

Quem vê feliz a Rebeca sabe da história de luta da mãe para que ela fizesse ginástica. Todavia, um ponto importante: havia onde ela pudesse fazer ginástica.

Na minha infância minha mãe procurou onde pudesse fazer, tenho 51 anos, e só achou no Tênis Clube de São José dos Campos. Ao contrário da Associação Esportiva que dava bolsas e popularizava a natação para quem não era sócio, o Tênis Clube não.

Fui para natação, era perto de casa e tinha um preço simbólico.

Ou seja, é importante que os governos possam fazer escolinhas de todos os esportes, que todos, de todas as classes sociais, possam conhecer e fazer este esporte.

Porque é fácil falar que somos ” o país do futebol”, sendo que qualquer bola de meia vira bola e qualquer chinelo vira gol, mas não sermos um país que ofereça outros espaços, esportes, chances.

Por que a China está na frente? Até nas graduações de qualquer conhecimento os chineses precisam fazer Educação Física, e, conhecer ao máximo de temas da cultura corporal.

Outro ponto que só fui entender a história dele depois que entrei na Faculdade de Educação Física da Unicamp: o racismo no esporte.

Eu me lembro de alguém, na minha infância, enquanto virava estrelinhas e tentava dar mortais, falar: ” Mas este esporte não é para você, você descende de negros, este esporte só branco se dá bem”.

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Ao ver o pódio do solo todo negro hoje fiquei querendo que esta pessoa estivesse vendo também.

Porque o que existe, na real, são chances de se praticar, não corpos feitos ou não para determinada modalidade. Existe chances de vivenciar, experimentar, ou não. E por muito tempo este esporte foi das elites, nos clubes, que eram exclusivamente brancos.

Ver o pódio todo negro me emocionou demais, ver uma brasileira que veio da favela, mais ainda.

Parabéns, Rebeca, seu ouro lavou um trauma que nem sabia que tinha.

*Camila Tenório Cunha, uma professora de Educação Física que tenta apresentar aos alunos o máximo de temas da cultura corporal que consegue. É graduada em Educação Física pela Unicamp, mestre em Educação pela mesma universidade. 

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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