Câmara suspende Glauber Braga por seis meses

Quinze anos depois de ser eleito pela primeira vez, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (10) a suspensão do mandato do deputado Glauber Braga (Psol-RJ) por 6 meses.

A votação foi realizada um dia depois de policiais legislativos agredirem e arrastarem o congressista pelo Salão Verde depois de ocupar a mesa diretora da Câmara. A suplente Heloísa Helena assumirá o cargo neste período.

A votação era, inicialmente, para cassar o mandato de Glauber. Depois de 4 horas, a discussão caminhava para cassação, mas para evitar a medida, o próprio Psol sugeriu uma suspensão para manter os direitos políticos do deputado. Foram 318 votos pela suspensão a 141 contrários.

A proposta não convenceu a extrema direita, mas partidos do centrão se dividiram, o que beneficiou o deputado. Um deles foi o União Brasil. O deputado Kim Kataguiri (SP) afirmou que era o que mais queria a cassação de Glauber, mas que nenhuma das votações do dia indicaram 271 votos, o que daria maioria pela cassação.

Em discurso de 25 minutos para fazer a sua defesa, o deputado chamou a decisão de “injusta”, disse que o Congresso é “inimigo do povo”, se emocionou ao falar da mãe e fez uma saudação aos militantes progressistas que acreditam no seu projeto político.

“Não imaginem que eu terei as minhas convicções cerceadas e deixarei de exercer meu mandato. Calar o mandato de quem não se corrompeu é uma violência”, disse no plenário.

Durante a votação da suspensão, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), ficou irritado e destituiu o vice, Bibo Nunes (RS). Isso porque Bibo Nunes liberou a votação do partido, enquanto a orientação de Sóstenes era negar a suspensão e votar a cassação.

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Os deputados progressistas celebraram a votação, no que foi considerada uma “virada” no resultado que estava se desenhando. Após a votação, os congressistas da esquerda se uniram em torno de Glauber Braga festejando o resultado.

Glauber foi acusado de empurrar e chutar um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) após ser provocado em 2024.

Em vídeos que circularam nas redes sociais, é possível ver o influenciador entrando na Câmara, chamando Braga de “burro” e afirmando que sua mãe, a ex-prefeita de Nova Friburgo (RJ) Saudade Braga, seria “corrupta”.

Durante a sessão desta quarta, Glauber afirmou que faria “de tudo” para defender a honra de sua mãe e para proteger a sua família.

“Para defender a minha família eu sou capaz de muito mais que um chute na bunda. Todas as vezes que eu lembro da minha mãe eu me emociono. Alguns de vocês podem achar que minha ação foi destemperada. Mas foi uma ação que aguentou um provocador por 7 vezes e que falou o que falou da minha mãe, uma mulher honrada. Eu não me arrependo disso e não posso pedir desculpas por defender a minha mãe”, disse.

Mesmo votando pela cassação, parlamentares da direita chegaram a concordar que fariam a mesma coisa, mas que não “agrediriam uma pessoa exercendo o mandato”.

O deputado ainda argumentou que a cassação não tem relação com o “chute na bunda”, mas é uma decisão política e um golpe contra o mandato tomado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ele, no entanto, não explicou quais seriam as motivações de Motta.

O plenário ainda vai analisar a cassação dos mandatos de Carla Zambelli (PL-SP), Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por diferentes motivos. Glauber rejeitou a comparação do seu processo com o dos congressistas da extrema direita.

“Não podem equiparar essa cassação com a da Zambelli, ela já está cassada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Não me comparem com o Eduardo, eu nao articulei contra o meu país. Não existe uma única denúncia de corrupção contra mim”, afirmou.

Além dos congressistas de esquerda, o ministro das Relações Institucionais e ex-deputado do Psol, Guilherme Boulos, esteve no plenário para acompanhar a votação e demonstrar apoio a Braga.

Um dos poucos congressistas do centrão que apoiou publicamente Glauber foi o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), que disse ser um “absurdo” retirar o mandato de um deputado que não é corrupto. Ele foi vaiado por outros deputados da direita.

O discurso de Glauber terminou com um agradecimento pelo apoio de militantes e fazendo uma menção ao teórico e líder da Revolução Russa, Vladimir Lenin. O deputado disse que seu mandato seguiu a diretriz feita pelo soviético de transformar o congresso em uma “tribuna do povo”.

Ele ainda fez uma menção à deputada Luiza Erundina (Psol-SP). Emocionado, Braga disse ter recebido uma ligação da congressista demonstrando apoio à postura do deputado.

“A Erundina além de uma referência, é uma inspiração. E ela disse para mim: ‘Você é um filho que eu não tive. Vá em frente, porque eu morro e vejo a continuidade dos meus sonhos’”, concluiu.

Resistência na Câmara

O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) ocupou na tarde desta terça-feira (9) a mesa da presidência da Câmara em resposta à votação de sua cassação.

Hugo Motta mandou esvaziar o plenário, retirou jornalistas e funcionários e suspendeu até a transmissão da TV Câmara. A sessão, que também discutia o PL da Dosimetria, foi suspensa.

A ação de Glauber foi uma resposta ao anúncio feito por Motta, que afirmou nesta terça que aceleraria a votação da cassação dos mandatos de quatro deputados, entre eles o congressista do Psol.

A saída de Glauber do plenário foi violenta. O deputado se debatia resistindo enquanto era arrastado pelo salão verde da Câmara. Dezenas de jornalistas registravam a cena e também foram agredidos pela Polícia Legislativa.

Muitos jornalistas foram empurrados e se queixaram de ter levado chutes e golpes dos próprios agentes de segurança.

Trajetória de Glauber

O deputado foi eleito pela primeira vez em 2010, recebendo 57.549 votos. Assumiu o mandato em fevereiro de 2011.

Em 2014 ele ampliou a sua base eleitoral e foi reeleito com 82.236 votos. Já em 2016, foi candidato à prefeitura de Nova Friburgo, mas não foi eleito. Em 2018, novamente foi reeleito para a Câmara dos Deputados com 40.199 votos.

A última eleição do deputado foi realizada em 2022, na qual o deputado recebeu 78.048 votos.

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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