Brasileiros veem Trump com cautela; China supera otimismo

Pesquisa global revela desconfiança e esperanças no segundo mandato do republicano

A volta de Donald Trump à Casa Branca divide opiniões no Brasil. Enquanto 43% dos brasileiros acreditam que seu governo trará benefícios ao país, o índice é menor que o da China (46%) e bem abaixo de nações como Índia (84%) e Arábia Saudita (61%), segundo pesquisa do Conselho Europeu de Relações Exteriores com 28,5 mil entrevistados em 24 países.

O dado surpreende: a China é o maior parceiro comercial do Brasil, e medidas protecionistas de Trump podem pressionar Pequim a buscar mais commodities brasileiras, como soja e carne. Mas os riscos também são claros.

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Trump já sinalizou taxar até 20% das importações globais dos EUA, incluindo produtos brasileiros. Em 2024, as vendas para os americanos somaram US$ 40 bilhões, segundo o Banco Central. Um “tarifaço” reduziria a competitividade, mas especialistas apontam que o Brasil pode escapar de medidas imediatas.

Motivo: os EUA têm superávit comercial com o Brasil, especialmente em setores como aço e motores. Enquanto China, México e Canadá — alvos prioritários de Trump — acumulam déficits bilionários, o Brasil mantém uma relação menos conflituosa.

O governo Lula evita confrontos. “Não queremos briga”, declarou o presidente, após Trump criticar o Mercosul e o Brics. A estratégia é clara: equilibrar parcerias com China e EUA sem aderir à polarização geopolítica.

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Para Oliver Stuenkel, da FGV, o Brasil tem espaço para ampliar laços com Europa, Índia e Oriente Médio, mas precisa de “clareza estratégica”. Já Hussein Kalout, ex-secretário de Assuntos Estratégicos, defende o pragmatismo: “Há interdependência. Brasil não é inimigo dos EUA”.

No primeiro dia de mandato, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris — pela segunda vez. A medida enfraquece esforços globais contra mudanças climáticas e coloca pressão sobre o Brasil, que sediará a COP30 em Belém (PA), em novembro.

Enquanto o governo Lula busca liderar a transição energética, a postura de Trump favorece combustíveis fósseis, criando um abismo ideológico. O risco? Perder apoio financeiro internacional para agendas ambientais.

Os 43% que veem Trump como positivo refletem esperanças setoriais. O agronegócio, por exemplo, antevê oportunidades se a China retaliar tarifas americanas com mais compras do Brasil. Já os 25% que desconfiam temem inflação e juros altos, impulsionados por um dólar valorizado.

Internamente, a vitória de Trump reanima grupos bolsonaristas, que enxergam no republicanismo conservador um modelo a seguir. Para o Planalto, o problema é administrar essas tensões sem perder o foco na recomposição de alianças globais.

A volta de Trump exige mais do que discursos serenos. Se, por um lado, o país pode se beneficiar de brechas comerciais, por outro, precisa evitar retrocessos ambientais e garantir que a polarização EUA-China não inviabilize seu protagonismo no Sul Global.

À frente da China e do Brasil, os países mais otimistas com o início da gestão Trump são Índia (84%), Arábia Saudita (61%) e Rússia (49%).

Menos otimistas que o Brasil são África do Sul (36%), Turquia (35%), Indonésia (30%), Ucrânia (26%). Os mais pessimistas com Trump são Reino Unido (1%5) e Coreia do Sul (11%).

Diplomatas e analistas internacionais reiteram: o pragmatismo será essencial para atravessar as incertezas geopolíticas. Resta saber se a diplomacia brasileira conseguirá transformar cautela em vantagem.

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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