Bolsonaristas e tucanos vão disputar o eleitor de direita em SP
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A dissidência de um grupo do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, para prestar apoio ao governador Rodrigo Garcia (PSDB) em São Paulo escancarou um racha na legenda e inaugurou a disputa entre bolsonaristas e tucanos pela direita paulista. Após a janela partidária —prazo em que a troca de partido ocorre sem perda de mandato— , o PL conquistou a maior bancada da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), mas seu palanque está dividido.
Parlamentares do partido declararam apoio ao tucano durante evento em Suzano, na Grande São Paulo, na última segunda-feira (4). O grupo reúne três deputados federais, sete estaduais, cerca de 30 prefeitos, 15 vice-prefeitos e pelo menos 70 vereadores. O anúncio cumpre uma antiga promessa, que envolve até Valdemar Costa Neto, presidente da sigla e aliado de Bolsonaro. O apoio já estava configurado desde o início do governo João Doria (PSDB) eleito com Garcia como vice, em 2019, também com apoio do PL.
A decisão, no entanto, contrariou bolsonaristas recém-chegados à sigla para seguir o presidente —a maioria vinda do antigo PSL— , que já acenaram ao ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato do Planalto ao governo paulista.
Este apoio já estava configurado desde o início do governo João Doria (PSDB) com Garcia como vice, em 2019, também com apoio do PL. O deputado estadual André do Prado (PL-SP) tornou-se vice-líder do governo na Alesp e o partido, então com seis parlamentares, votava com o governo na maioria das situações.
Com o fim da janela partidária, no último dia 2, o PL não só se tornou o maior partido da Câmara dos Deputados, com 77 parlamentares (15 em São Paulo), como subiu ao topo também na Alesp, quase triplicando de tamanho.
Hoje, a bancada liberal em São Paulo soma 17 deputados, contra seis eleitos em 2018. Como no movimento nacional, a maioria deles mudou-se para o partido para seguir Bolsonaro e queria, evidentemente, apoiar seu candidato.
“Alguns deputados deram a palavra, lá atrás, de que estariam com o Rodrigo, e entendo que vão cumprir o acordo. Outros deputados vieram da base do Presidente, chegaram no partido e, como eu, estarão com o Tarcísio”, afirmou o deputado estadual Agente Federal Danilo Balas (PL-SP), ex-PSL e um dos mais ferrenhos opositores da gestão Doria-Garcia na Casa.
Do grupo pró-Tarcísio, fazem parte os deputados estaduais liberais Castello Branco, Major Mecca, Conte Lopes, Coronel Nishikawa, Delegada Graciela, Gil Diniz, Tenente Coimbra e Valeria Bolsonaro.
Em comum, além da pauta voltada à segurança pública, a grande maioria foi eleita pela primeira vez em 2018, na onda do bolsonarismo, e continua ligada ao presidente. O comentário na Alesp é que devem se formar duas frentes: o PL de centro, junto a PSDB e MDB, onde sempre esteve, e o PL à direita, junto ao Republicanos de Tarcísio.
“Faremos uma coligação do PL com o Republicanos”, afirmou Castello Branco, ex-colega de Exército de Bolsonaro, que se diz muito confiante na vitória de Tarcísio.
O ex-ministro de Bolsonaro se filiou ao Republicanos em março, pouco antes de deixar o governo —exatamente para se lançar ao Palácio dos Bandeirantes. O plano era que, com a chegada de bolsonaristas ao PL, Tarcísio também fosse para lá, compondo um número único para os dois na eleição.
Porém, segundo fontes ouvidas pelo UOL, o movimento não foi visto com tanta empolgação dentro do partido, justamente por causa do apoio já fechado em torno de Garcia.
Com as portas fechadas, Tarcísio foi para o Republicanos, o que não agradou o presidente, ainda muito vinculado ao número 17, do antigo PSL. A impressão da campanha é que um palanque com os números 10 (Republicanos) e 22 (PL) dificulte ainda mais a situação.
A dissidência não acontece, no entanto, só no PL. Há partidos do chamado centrão que agregam bolsonaristas, mas, em São Paulo, deverão estar do lado de Garcia.
É o caso do PP, que ainda não oficializou apoio algum, mas sempre votou junto ao governo tucano. Mas ali, o deputado estadual Coronel Telhada (PP-SP) não só já declarou apoio a Tarcísio como acompanhou o ex-ministro em um evento religioso em São Paulo nesta semana.
Garcia, por sua vez, tem o que comemorar. Ainda pouco conhecido e não tão bem posicionado nas pesquisas, o atual governador tem conseguido reunir alianças de peso. Ao seu lado, estão o MDB, o União Brasil e o Cidadania, federado com o PSDB.
Nesta semana, também recebeu o aceno do Podemos, em reunião com a deputada federal Renata Abreu (Podemos-SP). Desidratado após a saída do ex-ministro Sérgio Moro (agora União Brasil), o partido perdeu força e deverá aderir à união.
Para as campanhas, o racha no PL é a antecipação da disputa entre os dois grupos pelo eleitorado conservador e de direita no estado. De acordo com a mais recente pesquisa Datafolha, da última quinta (7), Tarcísio tem 10% das intenções de votos contra 6% de Garcia no cenário com mais candidatos.
No cenário em que o ex-governador Márcio França (PSB) não aparece, no entanto, os dois empatam com 11%. Mas não só é possível que França, segundo colocado atrás de Fernando Haddad (PT), deixe o pleito em prol da aliança PT-PSB, como também já está dado entre as campanhas que uma vaga no segundo turno pertence à centro-esquerda — eles precisam cavar a segunda vaga.
Tarcísio não perdeu tempo. Na segunda (4), visitou a sede da Assembleia de Deus no Brasil, na zona leste de São Paulo, para uma reunião de obreiros comandada pelo pastor José Wellington, principal líder da igreja no país.
O ex-ministro foi convidado pelo deputado federal Paulo Freire (PL-SP), um dos três filhos parlamentares de Wellington, junto à deputada estadual Marta Costa (PSD-SP), que também estava presente, e a vereadora paulistana Rute Costa (PSDB).
Esta foi uma das primeiras reuniões de Tarcísio em São Paulo como pré-candidato e o primeiro aceno de uma grande congregação religiosa a um dos pré-candidatos ao governo paulista. O UOL procurou a assessoria da Assembleia para saber se o encontro se tratou de apoio oficial, mas não teve resposta até o fechamento desta reportagem.
Em sua fala, no púlpito, Tarcísio reforçou o discurso religioso, disse ter sido “criado na igreja”, com pai católico praticante e mãe evangélica.
Garcia, católico praticante, também tenta atrair o mesmo perfil de eleitor. Em suas redes sociais, tem investido na imagem de bom pai, publica fotos com a família e legendas com alusões religiosas.
Bem articulado, mas discreto, o hoje governador tem rodado o interior desde o ano passado, ainda como vice, para tentar garantir o voto em redutos tradicionalmente tucanos, mas que, desde 2018, têm flertado com o bolsonarismo.
Movimento semelhante deverá ocorrer na periferia da capital. Milton Leite (União Brasil-SP), presidente da Câmara Municipal e principal cotado para a candidatura ao Senado na aliança, já prometeu levá-lo “pela mão em todas as favelas de São Paulo”, redutos também de voto tradicionalmente conservador.
Em comum, Garcia e Tarcísio têm nomes desconhecidos e o apadrinhamento de políticos atualmente impopulares no estado: Bolsonaro e Doria. A divisão no PL, avaliam as campanhas, mostra que há um campo conservador a ser explorado e nenhum dos dois quer sair atrás.
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