Bolsonarista do BC segue defendendo juros altos
Foto: Pedro França/Agência Senado
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (25) que é preciso ter as contas públicas arrumadas para que o país obtenha crescimento sustentado no médio e longo prazos, com controle da inflação.
“É muito importante a gente entender que não tem mágica no fiscal [contas públicas] e, infelizmente, nem bala de prata. Se não tiver as contas em dia, em perspectiva a gente não consegue melhorar”, declarou Campos Neto, no Senado Federal.
Durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, ele lembrou o pacote lançado na Inglaterra que combinou aumento de gastos públicos com cortes de impostos. A medida gerou desconfiança no mercado e a renúncia da primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss.
Além do aumento de gastos públicos, Campos Neto também citou outros fatores que pressionam a inflação no país. São eles:
o baixo nível de recuperação de crédito no Brasil (quanto os bancos conseguem recuperar de inadimplentes);
alto volume do chamado crédito direcionado, a maior parte com juros subsidiados;
a indexação existente no país, ou seja, modelo em que reajustes de preços se baseiam em índices oficiais. Para Campos Neto, a prática faz com que a alta de preços se retroalimente.
O presidente do BC afirmou que é possível ter equilíbrio fiscal com o social, ou seja, com o aumento de despesas direcionado para a população mais carente.
“Não tem como ter equilíbrio no país sem ter equilíbrio social. É preciso atender aos que precisam. Mas tem um volume de recursos limitado, então é preciso fazer isso de tal forma que não passe a percepção que a trajetória de dívida é descoordenada. Pois se as pessoas não quiserem emprestar dinheiro para o governo, quem vai sentir é toda a sociedade”, afirmou o presidente do BC.
Desde a transição, com o aumento de gastos por meio da PEC para recompor o orçamento, o governo Lula tem sido cobrado pelo mercado financeiro sobre medidas para evitar o aumento da dívida pública.
O presidente do Banco Central também comentou as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele tem sido alvo de críticas pelo atual patamar da taxa de juros.
“Acho que o presidente [Lula] tem direito de falar sobre os juros, em nenhum momento reclamei sobre isso. Minha função é explicar de forma técnica como o BC vê isso. O Banco Central não é culpado pelas mazelas que o país passa, o BC é ator, esta no mesmo barco que o governo sempre. E tem de buscar harmonia com o governo e buscar achar solução para os problemas do país”, declarou Campos Neto.
Chefiando um Banco Central autônomo para perseguir as metas de inflação, Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tem mandato até 2024.
A taxa Selic está em 13,75% ao ano, o maior nível em mais de seis anos e a taxa real (descontada a inflação para os próximos 12 meses) mais alta do planeta.
O presidente do BC afirmou, novamente, que o chamado “arcabouço fiscal”, ou seja, a proposta do governo de uma nova regra para as contas públicas, no lugar do teto de gastos (que limitava a maior parte dos gastos à inflação do ano anterior), foi um “movimento na direção certa”.
“A gente entende que o arcabouço remove o risco de ter uma trajetória de alta grande na dívida. Mas que não tem relação mecânica [com o processo de corte de juros pelo Banco Central]”, afirmou ele.
A proposta de arcabouço fiscal limita o crescimento da despesa a 70% do aumento da arrecadação no ano anterior. E fixa metas fiscais (resultado primário) com o objetivo de trazer as contas de volta ao azul a partir de 2024.
Com base nas novas regras, levantamento da corretora Warren Rena indica que haverá uma necessidade de ao menos R$ 254 bilhões aumento de arrecadação, até 2026 para atingir o piso das metas de resultado primário do arcabouço fiscal apresentado pela equipe econômica — indicando que pode haver aumento da carga tributária, possibilidade que o governo nega.
No Senado Federal, Campos Neto afirmou entender que é “muito difícil” implementar corte de despesas no Brasil. Mas acrescentou que, quando o ajuste das contas é feito por meio de redução de gastos, há um impacto maior no controle da inflação.
“Quando, em qualquer país do mundo, [o ajuste nas contas] é mais corte de despesas, têm efeitos mais benéficos na inflação. Quando é mais [alta] de receita, não tem efeito tão benéfico na inflação quanto o corte de despesas. Entendemos as limitações do Brasil e que o governo tem feito esforço”, declarou o presidente do BC.
Economistas ouvidos pelo g1 avaliaram que, enquanto o arcabouço fiscal foca no aumento de arrecadação para tentar evitar descontrole das contas públicas, faltam indicações mais claras sobre o controle de gastos públicos e, também, de medidas para reduzi-los .
Segundo Campos Neto, o BC olha alguns indicadores para definir a taxa básica de juros, que são o atual nível da inflação, o aspecto qualitativo da alta de preços (se está dispersa ou não, por exemplo), o chamado “hiato do produto” (quanto o país pode crescer sem gerar inflação) e as projeções do mercado e do BC para o IPCA.
“A gente olha as expectativas de inflação, que é muito importante no sistema de metas, pois as pessoas reajustam os preços com base nas expectativas. A gente precisa ter certeza que as expectativas de inflação estão dentro das metas”, declarou.
Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação do próximo ano, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
A meta de inflação do próximo ano é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Na ata da última reunião do Copom, quando os juros foram mantidos estáveis em 13,75% ao ano, o maior nível em mais de seis anos, o BC avaliou que a inflação ao consumidor continua elevada.
O BC informou também que o processo de redução da inflação “demanda serenidade e paciência na condução da política monetária [definição dos juros] para garantir a convergência da inflação para suas metas”.
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