Ratinho enfrenta protesto por falta de água enquanto Sanepar é investigada por escândalo
A crise da Sanepar transbordou das investigações políticas para as ruas. Em meio ao avanço das denúncias de corrupção, moradores da Região Metropolitana de Curitiba realizaram um protesto em frente à companhia nesta segunda-feira (29), cobrando o básico, água na torneira. O episódio ampliou o desgaste do governador Ratinho Júnior (PSD), que já enfrenta turbulência política por causa do escândalo envolvendo a estatal.
Sob sol forte, manifestantes entoavam em coro “Água na torneira! Água na torneira!”, em um ato marcado pela indignação. A maior parte dos protestos partiu de moradores de Piraquara, na Região Metropolitana, município que abriga reservatórios estratégicos e é um dos principais fornecedores de água para a capital e cidades vizinhas.
Uma moradora de Piraquara, usando um megafone, sintetizou o sentimento coletivo. Disse que a população reivindica aquilo que paga mensalmente, abastecimento contínuo e previsibilidade quando houver interrupções. Questionou ainda por que a cidade, responsável por fornecer água a Curitiba e à região metropolitana, enfrenta todos os anos sucessivos episódios de desabastecimento, inclusive em datas festivas.
Os problemas não ficaram restritos a Piraquara. Falhas no abastecimento se repetiram em Curitiba e em outros municípios da Região Metropolitana, segundo relatos exibidos pela RPC, afiliada da TV Globo. Famílias relataram dias sem água, louça acumulada, necessidade de armazenar água em galões e dificuldades para cozinhar, tomar banho e manter a higiene básica durante o feriado de Natal.
A situação ganhou ainda mais repercussão porque ocorre no momento em que a Sanepar está no centro de um escândalo político. Áudios divulgados pela oposição levantam suspeitas de uso da estrutura da estatal para arrecadação irregular de recursos ligados à campanha eleitoral de 2022. O material foi encaminhado à Polícia Federal, ao Ministério Público Eleitoral e à Comissão de Valores Mobiliários, tirando o caso da bolha estadual e colocando a companhia sob escrutínio nacional.
Na reportagem da RPC, moradores demonstraram revolta com o contraste entre a realidade local e a função estratégica de Piraquara no sistema de abastecimento. “Como pode faltar água justamente onde estão as barragens?”, questionou uma manifestante. O problema, segundo os relatos, não é pontual, mas recorrente, com interrupções que se repetem há meses e se agravaram durante o período de calor e feriados.
Procurada, a Sanepar alegou “impedimento operacional” e afirmou que obras iniciadas em 2024 estão em fase final, com previsão de conclusão em até 60 dias. A companhia também informou o uso de caminhões-pipa e manobras no sistema para reduzir o impacto do desabastecimento. As explicações, no entanto, não foram suficientes para conter a revolta dos moradores.
O protesto recolocou a crise da água no centro do debate político e social do Paraná. Para a oposição, o episódio reforça a crítica ao modelo de gestão da estatal, acusado de priorizar interesses políticos e financeiros enquanto falha na prestação de um serviço essencial. Para o governo, o desafio é conter o desgaste em meio a investigações que já pressionam o Palácio Iguaçu.
O Blog do Esmael seguirá acompanhando os desdobramentos do caso, tanto no campo político quanto no impacto direto na vida da população.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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