EUA e Venezuela bloqueiam GPS no Caribe e colocam voos em risco

A escalada militar entre Estados Unidos e Venezuela está criando pontos cegos de GPS no Caribe e já coloca em risco a aviação civil e o transporte marítimo. Dados de universidades, empresas de monitoramento por satélite e relatos de pilotos indicam que forças dos dois países passaram a interferir deliberadamente em sinais de navegação, afetando rotas comerciais em uma das regiões mais movimentadas do hemisfério.

A disputa ocorre no contexto do confronto político e militar entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Navios de guerra americanos destacados para o Caribe, incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford, passaram a emitir sinais de bloqueio para impedir ataques com drones e munições guiadas por satélite, segundo especialistas em radiofrequência e autoridades ouvidas sob condição de anonimato.

Em resposta, as Forças Armadas venezuelanas ampliaram o bloqueio eletrônico em torno de infraestruturas consideradas críticas, como bases militares, refinarias de petróleo e usinas de energia. Ilhas próximas aos principais polos petrolíferos do país também concentram equipamentos de interferência, o que amplia o alcance do problema para além do território venezuelano.

O efeito colateral é imediato. Desde setembro, pelo menos um em cada cinco voos no Caribe registrou falhas ou perda total do sinal de GPS, segundo dados do Laboratório de GPS da Universidade de Stanford. Pilotos relataram a necessidade de navegar apenas com radar secundário e orientação direta das torres de controle, aumentando o risco de erro humano e de colisões.

Em dezembro, um Airbus A321 da JetBlue quase colidiu com uma aeronave militar dos Estados Unidos após decolar de Curaçao. Embora o incidente não tenha sido causado diretamente pelo bloqueio do GPS, ele expôs o ambiente de risco criado pela presença militar intensa e pela degradação dos sistemas de navegação na região.

A Federal Aviation Administration emitiu alertas a pilotos que operam no Caribe e publicou advertência específica sobre o agravamento da situação de segurança no principal aeroporto da Venezuela, em Maiquetía. O órgão também alertou para o aumento de operações estatais e militares em áreas próximas a rotas comerciais.

Os impactos não se limitam à aviação. Navios cargueiros, petroleiros e cruzeiros turísticos relataram perda de sinal por horas ao cruzar águas próximas à Venezuela, Trinidad e Aruba. Em alguns casos, embarcações tiveram de recorrer à navegação manual, usando cartas náuticas e referências visuais, prática considerada excepcional em rotas comerciais modernas.

O aumento da interferência ocorre em paralelo à militarização do Caribe. Autoridades americanas apreenderam petroleiros transportando óleo venezuelano em águas internacionais, enquanto a Marinha da Venezuela passou a escoltar navios que levam o petróleo do país para mercados asiáticos, ampliando o risco de incidentes.

As consequências recaem diretamente sobre a população civil. Após declarações de Trump sugerindo que o espaço aéreo venezuelano deveria ser tratado como fechado, companhias aéreas internacionais cancelaram voos, mesmo sem haver proibição legal formal. Famílias ficaram impedidas de viajar no período de fim de ano, em um país já marcado por crise econômica e social profunda.

O cenário no Caribe repete padrões vistos em zonas de conflito como Ucrânia e Oriente Médio, onde a guerra eletrônica passou a afetar tecnologias essenciais da vida cotidiana. O GPS, base da navegação aérea, marítima e de serviços civis, tornou-se um instrumento de disputa militar com efeitos que ultrapassam fronteiras e discursos oficiais.

Ao transformar o Caribe em um campo de teste de guerra eletrônica, Washington e Caracas empurram o conflito para além da retórica diplomática e colocam em risco vidas que nada têm a ver com a disputa por poder, petróleo ou influência regional. Quando a navegação falha, a geopolítica deixa de ser abstrata e passa a ameaçar diretamente a segurança internacional.

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Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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