Problemas de manutenção no Metrô-DF alimentam projeto de privatização
Há uma história que corre na capital do país sobre os aparelhos públicos, mais especificamente o metrô: o projeto de sucatear para privatizar. Na avaliação de sindicatos e parlamentares, o Governo do Distrito Federal (GDF) tem usado essa manobra para estabelecer uma Parceria Público-Privada (PPP) na gestão do modal que transporta 160 mil pessoas por dia.
O deputado distrital Max Maciel (Psol-DF) lançou um abaixo-assinado em defesa do metrô, o objetivo é conscientizar a população sobre o projeto de privatização que está em curso e ampliar a mobilização em defesa do metrô. “As falhas, panes elétricas e vagões lotados são a rotina. E isso não é acaso, é um projeto”, explicou Max.
“Querem entregar o vetor de desenvolvimento da cidade para a iniciativa privada. Esse é um projeto que tem investimento do Programa de Aceleração do Crescimento, ou seja, dinheiro do governo federal. Todos os metrôs no mundo que foram privatizados tiveram aumento de passagem. A tática do governo é sucatear para privatizar”, apontou o parlamentar.
Entre janeiro e abril deste ano, o modal registrou 25 falhas que interromperam a circulação do transporte, incluindo interferências técnicas e paralisações por manutenção. Em 2024, três trens pegaram fogo por superaquecimento e falhas elétricas. A mais recente, porém, aconteceu na manhã do dia 8 de agosto, com a interrupção da circulação de trens e o fechamento de todas as estações, em razão de uma falha no sistema de energia elétrica, de acordo com o Metrô-DF.

Atualmente, o sistema metroviário conta com 32 trens em operação para atender milhares de pessoas diariamente. De acordo com os funcionários do metrô, parte dos veículos está sucateada e alguns estão parados por falta de manutenção.
Outro problema que assola o transporte é a sobrecarga dos metroviários. Há 12 anos a companhia não realiza concursos públicos para contratação de funcionários. O último processo seletivo foi realizado em 2013, que ofertou 232 vagas para níveis médio e superior.
Neiva Lopes, diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Metroviários do Distrito Federal (SindMetrô-DF), disse que há metroviários trabalhando em uma carga horária extensa, chegando a nove horas por dia.
“Nós estamos há 12 anos sem concurso público. Os empregados não estão aguentando mais a carga horária. Nós temos empregados da estação e da segurança que trabalham 9 horas e meia por dia, com meia hora só de almoço”, pontuou.
Segundo ela, mais da metade dos metroviários estão se afastando do trabalho por sobrecarga mental causada pela pressão no ambiente de trabalho. “Nós temos hoje que 80% dos afastamentos médicos dos empregados do metrô são de causa mental, porque os empregados não estão aguentando a pressão de trabalhar sozinho, mulheres trabalhando sozinhas o dia inteiro na estação. Muita pressão, porque tem que trabalhar na estação, tem que subir intervalo e almoçar em outra estação.”
Um novo capítulo
A história não é nova, apenas ganhou um novo capítulo. Na verdade, ela teve início em 2019, quando o governo lançou um edital para empresas interessadas em gerenciar o Metrô-DF. No entanto, o processo foi paralisado no mesmo ano com a greve dos metroviários. Em 2020, devido à pandemia, o projeto não avançou. No ano seguinte, em 2021, a pauta voltou à tona e os trabalhadores entraram em uma nova paralisação durante sete meses.
“Nós fizemos uma greve de sete meses, ele [o governador] deixou todos os empregados tendo desconto, inclusive empregado que nem estava fazendo greve, estava sofrendo descontos e os sete diretores liberados do sindicato, ele zerou os contracheques”, lembrou a diretoria do SindMetrô.
Após a reeleição em 2022, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) não desistiu da ideia de passar o aparato público para a mão de uma empresa privada. A decisão continua sendo alvo de críticas. Em julho, o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) concedeu um prazo de 90 dias para a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob-DF) atualizar o projeto de concessão do Metrô-DF.

O desenrolar do capítulo entre o Tribunal e a Semob começou em abril de 2024, quando a justiça pediu que a pasta se pronunciasse sobre o futuro da PPP, questionando como um investimento de R$ 2,5 bilhões afetaria o projeto e exigindo a correção de falhas na documentação. Em novembro do mesmo ano a secretaria solicitou a suspensão por tempo indeterminado do projeto. O TCDF acatou o pedido, mas suspendeu o processo por 180 dias. Em agosto de 2025 o governo pediu mais 90 dias de prorrogação, que também foi concedido.
Para o parlamentar da oposição, as manobras fazem parte de um projeto de “sucatear para privatizar” do governo. “O governo coloca o orçamento, mas não executa. De R$ 49 milhões do orçamento de 2024, o GDF executou R$ 5 milhões, menos de 10%. Em 2023, de R$ 171 milhões executou apenas 640 mil. Então não tem condições mesmo de ter um metrô eficiente. Tem luz faltando, metrô falhando porque há um plano de sucateamento para entregar”, ressalta Max Maciel.
Em nota ao Brasil de Fato DF, o Metrô-DF justificou que os valores previstos nas “Leis Orçamentárias Anuais indicam apenas o limite orçamentário inicialmente planejado, contudo os recursos efetivamente liberados ao longo de cada exercício podem ser menores, seja por ajustes e limitações definidos pelo Governo do Distrito Federal (GDF), seja porque determinados convênios ou linhas de financiamento direcionados para investimentos não foram aprovados ou formalizados”.
A empresa informou, conforme dados extraídos do Sistema Integrado de Gestão Governamental (Sigoo), que nos
- nos anos de 2014 a 2018, a dotação efetivamente autorizada na categoria de Investimentos totalizou R$ 1.078.111.081,41, enquanto que os valores empenhados somaram apenas R$ 66.657.155,88;
- já no período de 2019 a 2024, a dotação efetivamente autorizada na categoria de Investimentos perfez o montante de R$ 880.861.870,36, enquanto que os valores empenhados chegaram ao valor de R$ 150.203.370,61.
“Ademais, analisando somente os anos de 2023 e 2024, os valores empenhados de investimento alcançaram R$ 78.595.505,34”, informou o Metrô-DF.
Segundo dados divulgados pelo SindMetrô-DF e confirmados pela Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU), o governo Ibaneis é o que menos investiu no metrô nos últimos 10 anos. Comparado com a gestão passada, entre 2014 e 2018, o GDF deixou de aplicar R$ 1,1 bilhão que estavam previstos no orçamento. Só em 2023, dos R$ 171 milhões autorizados para modernizar e ampliar, usaram apenas R$ 640 mil, menos de 1%. Em 2024, só comprometeram 10% do valor total.
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Publicação de: Brasil de Fato – Blog