Pedro dos Anjos: Oriente Médio em chamas — digressões sobre sífilis, salsichas e guerra

Por Pedro dos Anjos

Não gosto de analogias entre política e corpo humano.

O general Golbery, cruel intelectual da ditadura civil-militar de 64, tal como os positivistas, adorava tais comparações.

Às vezes, porém, admito que elas podem caber.

Antes da descoberta dos antibióticos, um diálogo anedótico sobre sífilis aconteceu mais ou menos assim:

Um médico pergunta ao colega: “Como vai o seu paciente sifilítico depois do tratamento?”

“O mercúrio é formidável! As lesões do corpo dele desapareceram!”, respondeu o outro.

“Magnífico! E o estado geral dele, como está?”, continuou o primeiro.

“Infelizmente, não está. Ele não se encontra mais entre nós. Você sabe como o mercúrio é tóxico.
Mas, o fato objetivo é que as lesões escafederam-se!”, concluiu satisfeito o tratador.

O Estado de Israel sempre propagandeia que está engajado na guerra ao terror.

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Em seu nome, volta e meia aniquila este ou aquele dirigente islâmico, porém alvejando milhares e milhares de civis inocentes.

Para Israel, tal externalidade macabra é apenas um detalhe.

O fato objetivo é que alguns chefes da resistência islâmica foram exterminados.

E todos os demais serão até o fim dos tempos, promete o extremista regime israelense do extermínio – mesmo que aniquilem um povo inteiro, seja na Palestina, no Líbano ou no Irã.

(No exemplo médico acima, o que interessou foi acabar com a sífilis, ainda que às custas da vida do paciente).

Mais tenebroso ainda é comparar gente a embutido.

Recentemente, em ato falho na língua inglesa, o Primeiro Ministro, Keir Starmer declarou retoricamente: “Peço novamente um cessar-fogo imediato em Gaza, o retorno das salsichas (sausages), digo, dos reféns (hostages) e um novo compromisso com a solução de dois estados: um estado palestino reconhecido ao lado de um Israel seguro e protegido”.

É assim que pensam os senhores da guerra – que nós, 99,99% da humanidade, não passamos de um bolo de embutidos.

Israel na Palestina e no Líbano, a Itália de Mussolini na Etiópia, a Alemanha nazista em Londres, a Inglaterra e os americanos em Dresden e Hamburgo, os EUA em Tóquio, Hiroshima, Vietnam, Cambodia e Iraque, todos bombardearam civis que foram desumanizados como se fossem salsichas.

Quando será que estas reagirão para causar uma incurável indigestão diarreica nos vis senhores da guerra?

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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