Regis Barros: Descriminalização da maconha, a cegueira da ABP e do CFM

Descriminalização da maconha, a cegueira da ABP e do CFM

Por Régis Barros*

Há poucos dias, o CFM [Conselho Federal de Medicina] e a ABP [Associação Brasileira de Psiquiatria] emitiram nota conjunta contrária à descriminalização da maconha nos termos do julgamento do STF [Supremo Tribunal Federal].

Por acompanhar os posicionamentos dessas instituições nos últimos anos, não me causa espanto o que ambas escreveram.

A nota é uma mistura de obscurantismo e de enredo apocalíptico. Ela tenta instalar um medo e quase uma purgação àqueles que ousem defender o contrário.

Em suma, parece mais um rito de penitência e de tese apocalíptica.

A nota é uma clara expressão do viés de não aceitação em que o autor tende a responder de acordo com o que pensa e escreve aquilo que desejava ouvir.

Em tese, a referida nota soa mais como uma pregação.

Ela, a nota, esquece que a questão da descriminalização da maconha não é somente da alçada médica.

Essa questão é muito mais ampla e, portanto, ela obrigatoriamente demanda de muitos outros saberes e olhares que, a meu ver, são, inclusive, mais importantes para essa questão do que o cartesianismo médico.

O entendimento desse paradigma não pode estar preso à retórica superficial e punitiva do “fazer mal” ou “não fazer mal”, pois, se assim for conduzido, não há como se defender do consumo de cigarro e de álcool.

Reflito: existe algo mais nocivo do que eles?

Se houver dúvidas, visite as enfermarias médicas de qualquer hospital, analise os dados de mortes violentas e suas relações com o álcool e, por fim, avalie se você consegue comprar essas drogas na esquina.

Diante disso e de diversos outros argumentos, que não caberão nesse texto curto, não faz o mínimo sentido manter a criminalização do usuário da maconha para fins pessoais.

Na verdade, o que se deve fazer é ir além da descriminalização. Há de ocorrer a participação do Estado com uma regulamentação séria e adequada.

*Régis Barros é médico psiquiatra, mestre e doutor em Saúde Mental pela FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)

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Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

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