Come Ananás: “Arranca a cabeça e deixa pendurada”
“Arranca a cabeça e deixa pendurada”
Um terço dos mandados levados pelas “tropas de elite” de Castro para o massacre na Penha e o Alemão foram expedidos pela Justiça do Pará, onde a “tropa de elite” da PM tem um cântico de decapitação
Por Hugo Souza, no Come Ananás
Um dos mortos na megachacina de Claudio Castro nos complexos da Penha e do Alemão foi Iago Ravel Rodrigues Rosário, de 19 anos. Moradores encontraram Iago decapitado na mata da Vacaria, no alto da serra que numa ironia se chama da Misericórdia. Vídeos mostram o corpo de Iago estirado no chão e a cabeça, arrancada, pendurada numa árvore.
Outro vídeo, este de alguns anos atrás, mostra policiais da “tropa de elite” da Polícia Militar do Pará, a Rotam, entoando o seguinte cântico de guerra na presença do governador Helder Barbalho: “Arranca a cabeça e deixa pendurada/É a Rotam patrulhando a noite inteira/Pena de morte à moda brasileira”.
A Megaoperação Contenção, levada a cabo na última terça-feira, 28, na Penha e no Alemão pelas “tropas de elite” das polícias Civil e Militar do Rio, tinha como objetivo divulgado cumprir quase 100 mandados de prisão.
Destes, 32 — cerca de um terço — foram expedidos pela Justiça do Pará contra “alvos paraenses” que se deslocaram para o Rio, de onde teriam continuado a articular ações criminosas no estado da Região Norte.
Na última quarta-feira, 29, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) informou que dos 32 mandados de prisão deferidos pela Justiça do estado, cinco foram cumpridos e “outros 15 homens, alvos da operação, morreram ao entrar em confronto com os agentes de segurança”. Um dos mortos, segundo a Segup, teria ordenado um ataque recente a policiais em Belém.
Em 2023, Helder Barbalho condecorou com a Láurea do Mérito Operacional 22 policiais paraenses que participaram de uma operação contra o Comando Vermelho no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Treze pessoas foram mortas naquela operação. Entre elas, o chefe do CV no Pará, Leonardo Araújo, conhecido como “Léo 41”.
Alguns veículos de imprensa, como o Metrópoles, afirmam que Megaoperação Contenção foi uma “operação conjunta das forças de segurança do Rio de Janeiro e do Pará”, mas não há confirmação oficial de que policiais do Pará tenham participado da carnificina desta semana na Zona Norte do Rio.
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Há “apenas” 132 mortos, um deles cortado em dois, de uma só tacada: a tacada necropolítica de Claudio Castro — do bolsonarismo — visando as eleições de 2026, mas não “apenas”.
Os filmes Tropa de Elite são o que são: apologias da “pena de morte à moda brasileira” premiadas no Festival de Berlim. Tropa de Elite 2, não obstante, traz verdades.
O filme, que trata da ascensão das milícias, mostra que no Rio de Janeiro, hoje — e não é de hoje — não há grande operação policial que não seja balizada, decidida, desencadeada antes de tudo pela conquista, reconquista ou defesa miliciana de territórios.
“Quem disse que foi a polícia que cortou a cabeça?”, disse nesta quinta-feira, 30, o secretário de Policia Civil do Rio de Janeiro, o delegado Felipe Curi, respondendo com frieza, por assim dizer, a questionamentos sobre a decapitação de Iago Ravel Rodrigues Rosário no maciço da serra da Misericórdia.
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Publicação de: Viomundo
